quinta-feira, março 18, 2010


A cantada

2
(crônica do livro papo de garotas)


Era uma noite de inverno, fria e úmida em San Diego. Eu estava no dormitório da Universidade, com o saco cheio de tudo! Sabe aqueles dias em que a gen¬te não agüenta mais ficar dentro do quarto, pensando na própria vida, mas também não consegue se concen¬trar num livro, numa revista? Pois é! Eu já tinha estuda¬do o que tinha para estudar, feito tudo o tinha para fazer. E agora? Pensava eu, no meu canto. Foi me dan¬do uma vontade imensa de sair dali, de ir para a rua, ver outras caras. Simplesmente andar, olhar ao redor e ver a vida. Queria fazer como um espectador de um filme no cinema, que se envolve, se emociona, sente as coisas, mas na verdade não precisa fazer nada, além de ficar ali, sentado.
Então, catei uma jaqueta e saí do dormitório. Quan¬do cheguei lá fora, vi que estava garoando, uma chuvinha fina, capaz de deixar qualquer um encharcado. Andei uma quadra e resolvi pegar um ônibus. De noi¬te, os ônibus por lá iam sempre vazios. Entrei e, quan¬do estava pagando a passagem, me dei conta de que nem havia visto para onde ele ia. Olhei para o motoris¬ta e perguntei para onde ele estava indo. Rindo, ele me respondeu: "Hillcrest, garota!". Agradeci e sentei na terceira cadeira perto da porta.
Havia apenas uns três passageiros lá no fundo e uma garota sentada atrás do motorista, no segundo assento, quase ao meu lado. Mas ela olhava pela janela e eu não pude ver seu rosto. Encostei minha testa no vidro, gelado, e também fiquei observando a noite, ali, de camarote. Hillcrest, o bairro para onde íamos, era um lugar bem movimentado, cheio de bares, cafés e restaurantes aconchegantes. Eu já havia ido lá uma vez e me lembrava desse lugar alegre, freqüentado por in¬telectuais e gays.
O ônibus deu uma parada e uma senhora entrou e foi sentar lá no fundo. Ao passar por mim, notei que a garota da outra fileira me observava. Mas, quando olhei de volta, ela desviou o olhar. Vi eme tinha lincios cabe¬los cacheados, castanhos escuros, num corte reto, dei¬xando a nuca de fora. Do pedaço que pude ver do rosto, notei a pele muito clara, os traços bonitos e so¬brancelhas bem desenhadas, realçando os olhos.
Voltei a olhar pela janela e percebi que já estáva¬mos em Hillcrest. As ruas não estavam tão cheias quanto no verão, mas ainda havia muita vida por lá. O ônibus parou, a tal garota dos cabelos cacheados se levantou e caminhou para a frente. Enquanto esperava a porta abrir, olhou em minha direção e disse séria: "You are very beautiful!". Ela falou com tanto gosto, como se fosse uma cantada apaixonada, que não resisti e olhei para trás. Eu precisava ver quem era o garoto tão boni¬to capaz de chamar tanto a atenção da menina!
Mas não havia ninguém. Me toquei então que a cantada era para mim. Olhei novamente para a porta, mas a garota já havia descido. E, enquanto o ônibus partia, pude vê-la pela janela, parada na garoa, olhan¬do fixamente em minha direção.
Alguma coisa havia acontecido naquela noite. Uma daquelas coisas que nos envolvem, nos emocionam, nos fazem sentir, sem a nossa participação direta, além de ficar ali sentada e assistir! Pronto. Agora eu já podia voltar para o dormitório.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa muito linda a historia as vezes precisamos simplesmente de um EU TE AMO ou até mesmo vc é linda para nos sertimos bem ou até mesmo um abraço para alegrar a nossa noite ou dia

Anônimo disse...

kkkkkkkkk muito engraçado não estou consegindo parar de rir!!!!!!! kkkkkkkkkk

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Regrinhas:
- Quer criticar o blog ? avontade mais sem palavrões e ofensas Ok!?

Obrigada pela colaboração!