quinta-feira, março 18, 2010


A humanidade

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*Crônica do livro papo de garotas *

Deitada de bruços sobre os paralelepípedos, eu sen¬tia muita dor. Mas não era a dor dos tiros que havia levado. Era uma dor de tristeza, de revolta e de amar¬gura. Continuei a ouvir o som das metralhadoras. Elas não parariam enquanto não matassem todos. Afinal, era a guerra.
Um soldado passou ao meu lado. Só pude ver as suas botas sujas de lama, que quase encostaram no meu rosto. Ele me ignorou, supondo que eu já estives¬se morta, e continuou atirando impiedosamente nos outros. Um pequeno e velho caminhão também pas¬sou muito próximo. A princípio tive medo de que suas rodas passassem sobre mim. Depois, indiferente, eu já não sentia o corpo.
De repente, silêncio. As metralhadoras cessaram. O extermínio tinha acabado: todos mortos. Tive ódio e nojo de toda a humanidade. "Do que o ser humano é capaz...", pensei.
Algum tempo depois, chegaram garotos vestindo roupas civis. Passaram por mim e se sentaram num vagão abandonado logo atrás, um soldado veio e per¬guntou a cada um deles para qual país iria. Um garoto disse o nome do meu. Senti saudades. Talvez aquilo tudo fizesse parte de algum programa de guerra.
O soldado se afastou. Um dos garotos, de uns 15 anos talvez, desceu do vagão e veio em minha dire¬ção. Olhei para ele, que, percebendo que eu estava viva, ficou perplexo. Levantei a cabeça com dificulda¬de e pedi:
— Me mate, por favor, me mate!
Como se entendesse meu sofrimento, fez menção de me ajudar. Passou a mão pelo próprio corpo em busca de alguma coisa, mas, como não encontrava, disse desculpando-se:
— Eu não tenho arma.
O soldado, de olho no movimento, aproximou-se. Quando viu, surpreso, que eu estava respirando, sa¬cou o revólver da cintura e apontou em minha direção. Olhei para a arma, tive medo de morrer. Mas tive mais medo ainda de ficar viva.
— Só um ou dois tiros. Atire, por favor, atire!
— Segurem-na! — ele gritou. — Eu quero atirar no peito!
O garoto que me havia descoberto me segurou pe¬los cabelos, molhados de suor e sangue, e puxou mi¬nha cabeça para trás, deixando meu peito à mostra.
— Atire, por favor! — gritei pela última vez, olhan¬do firmemente para o soldado ali parado.
E foi então que aconteceu.
Um outro garoto, que devia ter perto de 6 anos, desceu do vagão e, com o próprio peitinho estufado, colocou-se entre mim e o revólver, deixando o solda¬do assombrado. Ele continuou apontando a arma, só que desta vez frouxamente.
Nesse instante, senti amor. Um amor profundo e enorme por toda a humanidade. "Do que o ser huma¬no é capaz!", pensei.
Fechei os olhos e morri.Abri os olhos, assustada, e acordei de um pesadelo

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Regrinhas:
- Quer criticar o blog ? avontade mais sem palavrões e ofensas Ok!?

Obrigada pela colaboração!